segunda-feira, 28 de junho de 2010

Conto de uma noite no metrô




Após esperar alguns minutos desde minha chegada na estação, ouvi de longe um barulho confortante, que subitamente, tornou-se estrondoso e brusco. Próxima parada: Estação da Carioca.
Estava cansado, mas como o vagão não estava lotado, pra mim, sentar seria vencer sem lutar, pois não havia ninguém para pelo menos disputar a poltrona comigo. Deixei de lado a poltrona e me encostei perto da porta. Iniciava-se ali a minha noite no metrô.
Mais ou menos 20:45h da noite, e o metrô seguia seu trajeto. Eu vi rostos impacientes, rostos cansados e também rostos felizes e ansiosos.

Sem nenhum aparelhinho eletrônico moderno ou algo que pudesse ler, tive que me contentar em olhar e analisar as pessoas a fundo. Foi aí que me deparei com a coisa mais estranha, foi aí que realmente percebi que cada pessoa tem um jeito bem diferente, que cada pessoa é muito mais estranha do que parece ser para outra.

Ao que me recordo, havia um casal homossexual e eles conversavam sobre coisas insanas. Forçavam as vozes até ficarem bem finas, seus cabelos estavam cheios de gel, usavam brincos em ambas as orelhas. Um era mais comportado que o outro. Deixavam claro quem era o "homem" da relação. Tinha um mais afeminado, que usava roupas mais apertadas e modernas. O outro parecia ser mais conservador quanto a roupas, pois usava uma calça jeans e uma camisa simples. Porém ambos eram bastante carinhosos e compreensivos um com o outro. Dava pra ver que, enquanto conversavam, concordavam sempre e trocavam carícias. Talvez fossem a uma festa, talvez estavam planejando contar aos seus familiares, talvez estivessem indo a um motel...O blá blá blá era mais ou menos intenso, e eu me desconcentrava sempre que a "voz do metrô" anunciava a parada em uma estação.

O metrô parava, e ninguém entrava. As mesmas pessoas que estavam quando entrei pareciam seguir para o mesmo destino. Pude observar outra pessoa:
Uma mulher, sem educação e de voz irritante. De suas frases, saíam trocentas palavras erradas e isso me deixava muito mais irritado. Depois de escutá-la por alguns minutos, percebi que ela ameaçava alguém, indiretamente, pelo celular. Ela estava impondo toda sua "moral", e sem se importar com os outros passageiros, falava altos palavrões, de uma forma que deixava todos constrangidos. Os poucos passageiros que estavam no vagão e eu, olhávamos discretamente para a mulher, com um ar de rejeição e superioridade. Nós tentávamos repreendê-la pelo olhar, mas ela, ignorante, nem se dava conta, e fazia do vagão seu cantinho mais pessoal. O casal gay não ligava, não estava nem aí. Somente trocavam carícias.

Mas eu cansei de dar bola, cansei de ficar ouvindo aquela voz irritante e aquela pessoa mal educada, dizendo coisas feias, numa sexta-feira a noite, dentro de um vagão de metrô. Não havia nada que eu pudesse fazer, então comecei a olhar o mapa das estações e tentei decorá-las. Alternava entre zona norte e sul, mas o mapa da zona sul me atraía um pouco mais. Não sei o porquê, só sei que eu viajava e pensava em dar um salto até a estação do Baixo Leblon, ou até mesmo parar na Cardeal Arcoverde. Logo a "voz do metrô" me interrompia novamente, e eu percebi que estava mais ou menos próximo do meu destino.

Tinha um cara que parecia estar num sono eterno. Um cara meio pardo, de cabelo liso, mais ou menos 26 anos. Seu cansaço era sem fim. Acho que pra ele, aquela era a poltrona mais confortável, pois ele sequer abria os olhos para vigiar a estação em que estávamos. Dormia feito um urso. Se sonhava eu já não sei, sei bem que dormia. Dormia bem...

O casal gay levantou e desceu na estação da Uruguaiana. A mulher mal educada descera ainda na zona norte, estação São Cristóvão se não me engano. Na Uruguaiana, entraram duas senhoras, cada uma com 50 anos ou um pouco mais. Uma sentou ao meu lado, e pediu para que eu confirmasse se o metrô iria para o destino que ela queria. Confirmei e prosseguimos a viagem. Eu estava a +/- 5 ou 6 minutos da estação em que eu queria chegar.
Estranhamente ela fez um comentário meio sinistro com a outra amiga, mas querendo que eu e as poucas pessoas que ainda estavam no vagão ouvissem. Disse: "Sabe, Deus está com a gente! Eu sinto.." Eu levantei uma das sobrancelhas e logo mudei de expressão. Não pude entender a mensagem. Achei sinistro aquele comentário naquela hora, naquele dia e naquele lugar. Me arrepiei! Sem entender, caminhei em direção a porta. Chegava a hora de deixar o vagão.

"Próxima estação: Carioca. Desembarque pelo lado direito. Next Stop: Carioca Station."
Era hora de descer. Era hora de abandonar aquelas senhoras e o cara que dormia lá dentro, no vagão. Ao ouvir o barulhinho das portas se abrindo, saí do vagão sentindo que podia ir mais longe, saí querendo saber mais daquelas pessoas. Estava curioso pra saber qual era o destino de cada uma. Eu queria me dividir em três, e acompanhar cada uma. Mas também queria descansar, queria me divertir. Queria seguir até a zona sul. Queria mais uma noite no metrô...

3 comentários:

  1. Hilário cara !! Muito legal você contando essa sua experiência !! Eu fiquei mais curioso com o comentário da senhora ......

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  2. cara,eu adorei,namoral como vc escreve bem,gostei muito mesmo,eu ri com a mulher ignorante rss
    beeijos Danii :*

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  3. Dani, parabéns pela sua análise no metrô, é realmente impressionante como cada pessoa age de um jeito diferente. Como dizem: "de perto, ninguém é normal."
    Você escreve muito bem, te adimiro muito por isso, poeta =)
    beijos Mariana

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