sábado, 8 de dezembro de 2012

Encruzilhada



José Mário. Esse é um nome comum. Talvez não seja tão comum quanto os outros nomes que passaram pelo caminho desse homem. Aliás, homem comum no Rio de janeiro: advogado, descendente de portugueses, branco, com barba feita, corpo regular. 47 anos, corpo de 35, homem bem cuidado. Seus bonitos cabelos lisos, mafiosamente penteados e grisalhos e seus olhos glaucos combinavam com seus bonitos ternos e chamavam atenção dos olhares femininos e masculinos. Olhares, porém, vazios.

O ano era 2010 e José Mário trabalhava na cidade do Rio de Janeiro. Advogado experiente – 23 anos de formado -, laborava em um escritório no centro da cidade, na Rua São José. De segunda a sexta, tinha de atravessar a famosa Avenida Rio Branco, onde passam milhares de pessoas todos os dias. Pessoas e olhares. José Mário, homem comum, seguia ao trabalho e passava por Juliana, por Carol, por Daniele, por Eduardo, por Luiza, por Carlos, por José, por Jairo, por Maria, por Alessandro, por Cláudia e por muitas outras pessoas comuns. Os olhares eram trocados, é claro. Muitas vezes, os olhares duelavam por alguns segundos e milésimos. Minutos não eram passíveis de uso, pois a quantidade de informação visual e auditiva complicava a vida das pessoas. O sol carioca dava vida ao cinza e ao colorido da cidade. Tudo acontecia com muita rapidez. Nos tempos modernos, praticidade é algo de suma importância.

Mas José Mário, devido a alguns motivos pessoais, às vezes, olhava de forma muito firme. Como homem educado, porém viril e sério, não detinha todos os olhares pelos quais passava. Admirava as belas mulheres da cidade, mas tudo era um caos comumente ordenado, engolindo o tempo de contemplação das pessoas. Todos deviam produzir. Era possível fazer qualquer coisa, desde que se estivesse produzindo ao mesmo tempo.

Em dias mais calmos - e raros -, José Mário atravessava a tão famosa e movimentada Avenida Rio Branco. Mais um bocado de pessoas e olhares. Esse experiente homem se perguntava o porquê de, mesmo em dias mais serenos, não conseguir fixar o seu olhar ao de outrem. Por que só conseguir admirar as bonitas mulheres, as moças do centro? Por que não começar uma conversa com outro olhar?

José Mário lembrara-se que um dia, escutou de uma sábia e experiente professora da sua graduação que, despachos e oferendas não eram colocados às encruzilhadas por acaso. Era nas encruzilhadas que os destinos se esbarravam, se cruzavam. Por isso deixar os despachos nesses lugares.

Parou de se perguntar o motivo de não conseguir encaixar os outros olhares ao seu. Entendeu que nada iria acontecer de forma forçada, montada. Entendeu por que, ao atravessar ruas tão movimentadas, passava ao lado de muitas pessoas, mas nada parecia fazer sentido. Eram simples olhares no meio da multidão. Simples olhares que estavam ali por acaso. Teve de gastar alguns poucos minutos, dois ou três, e entender que olhares e destinos, quando têm que se encontrar, fazem de qualquer rua suas encruzilhadas.

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