José Mário. Esse é um nome comum. Talvez não seja
tão comum quanto os outros nomes que passaram pelo caminho desse homem. Aliás,
homem comum no Rio de janeiro: advogado, descendente de portugueses, branco,
com barba feita, corpo regular. 47 anos, corpo de 35, homem bem cuidado. Seus
bonitos cabelos lisos, mafiosamente penteados e grisalhos e seus olhos glaucos combinavam
com seus bonitos ternos e chamavam atenção dos olhares femininos e masculinos.
Olhares, porém, vazios.
O ano era 2010 e José Mário trabalhava na cidade do
Rio de Janeiro. Advogado experiente – 23 anos de formado -, laborava em um escritório
no centro da cidade, na Rua São José. De segunda a sexta, tinha de atravessar a
famosa Avenida Rio Branco, onde passam milhares de pessoas todos os dias.
Pessoas e olhares. José Mário, homem comum, seguia ao trabalho e passava por
Juliana, por Carol, por Daniele, por Eduardo, por Luiza, por Carlos, por José,
por Jairo, por Maria, por Alessandro, por Cláudia e por muitas outras pessoas
comuns. Os olhares eram trocados, é claro. Muitas vezes, os olhares duelavam
por alguns segundos e milésimos. Minutos não eram passíveis de uso, pois a
quantidade de informação visual e auditiva complicava a vida das pessoas. O sol
carioca dava vida ao cinza e ao colorido da cidade. Tudo acontecia com muita
rapidez. Nos tempos modernos, praticidade é algo de suma importância.
Mas José Mário, devido a alguns motivos pessoais, às
vezes, olhava de forma muito firme. Como homem educado, porém viril e sério,
não detinha todos os olhares pelos quais passava. Admirava as belas mulheres da
cidade, mas tudo era um caos comumente ordenado, engolindo o tempo de contemplação
das pessoas. Todos deviam produzir. Era possível fazer qualquer coisa, desde
que se estivesse produzindo ao mesmo tempo.
Em dias mais calmos - e raros -, José Mário
atravessava a tão famosa e movimentada Avenida Rio Branco. Mais um bocado de
pessoas e olhares. Esse experiente homem se perguntava o porquê de, mesmo em
dias mais serenos, não conseguir fixar o seu olhar ao de outrem. Por que só
conseguir admirar as bonitas mulheres, as moças do centro? Por que não começar
uma conversa com outro olhar?
José Mário lembrara-se que um dia, escutou de uma
sábia e experiente professora da sua graduação que, despachos e oferendas não
eram colocados às encruzilhadas por acaso. Era nas encruzilhadas que os
destinos se esbarravam, se cruzavam. Por isso deixar os despachos nesses
lugares.
Parou de se perguntar o motivo de não conseguir
encaixar os outros olhares ao seu. Entendeu que nada iria acontecer de forma
forçada, montada. Entendeu por que, ao atravessar ruas tão movimentadas,
passava ao lado de muitas pessoas, mas nada parecia fazer sentido. Eram simples
olhares no meio da multidão. Simples olhares que estavam ali por acaso. Teve de
gastar alguns poucos minutos, dois ou três, e entender que olhares e destinos,
quando têm que se encontrar, fazem de qualquer rua suas encruzilhadas.
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