Saí. Resolvi sair naquela tarde cinza, pois eu tinha que fazer alguma coisa. Chovia a cântaros e estava frio, mas não ventava muito. Fui à rua quando a chuva deu sinal de cansaço. Pela calçada, eu andava com certa rapidez que fazia - quem me visse - imaginar alguém meio destrambelhado. De repente, um olhar de longe, mas não desconhecido, vinha de encontro ao meu. Pronto! O meu coração começara a acelerar e, à minha cabeça, misturavam-se passado, presente e futuro numa fração de segundos. Um banho! Tomei um banho de um carro que passou rapidamente e isso me fez parar de pensar em tudo. Tão rápido que só depois pude pensar em um palavrão adequado àquele momento para extravasar a minha indignação com a insensatez do motorista. O presente voltara à minha mente.
Ah, aquele olhar...! Senti de
longe os batimentos do coração dela, também estava acelerado. Estávamos na
mesma direção, mas em sentidos opostos. Eu ia, ela vinha. O carro serviu para
nos dar um banho, lavar nossa alma e jogar, junto à água da chuva, as mágoas
que ficaram em nosso passado. E sorrimos. Nos olhamos de forma sincera, pura,
como nos olhamos na primeira vez que nos vimos.
Cumprimentos, sorrisos, olhares,
muita conversa jogada fora. Nos mostramos interessados pela vida do outro e demos
importância nenhuma ao tempo. Foi pouco tempo. Tínhamos compromisso, hora
marcada. E daí? A nossa vida era bem mais importante. Tudo podia esperar até
que nos sentíssemos livres de toda a culpa que tinha nos tomado durante anos.
Quando enfim nos sentimos leves, vendo que um próximo reencontro poderia
naturalmente acontecer, nos deixamos ir. Tínhamos de ir.
E depois da despedida, tudo ficou
sem sentido e sem direção. Ela, como sempre, não olhou para trás. Eu olhei
apenas para confirmar que tudo tinha acontecido. Aconteceu! E eu estava sem
conexão com o mundo exterior. Meu coração voltou a ficar acelerado e segui meu
caminho pensando no passado. Alguns passos e eu voltei a mim. Pronto, estava
novamente no presente. E mesmo querendo chegar a um lugar, nem tudo ainda fazia
sentido para mim. Ai, ai, eu sempre
enxergando tudo com outros olhos. Mas só porque eu acredito no passado.
A chuva voltou forte, com raiva. Alguém parecia não ter gostado de alguma
coisa e estava despejando toda a água em cima de mim. Mas a chuva me fez
pensar. Parece que a água da chuva fez com que o presente, por um momento,
dialogasse comigo. Minutos. Muitos minutos. Agora, eu caminhava em um sentido,
mas na minha mente, os pensamentos não tinham direção. Uma grande confusão. Eu
fiz uma grande confusão mesmo. E daí? Nada faz sentido se você não souber
resolver o problema. Sentido? Por que fazer sentido se, quando ama, a gente
perde a direção?
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