quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Pela janela


Pela janela ele via fumaça, carros, calçadas. Via pessoas jovens, velhas, estranhas, normais, enfim. Pela janela ele via. Via que a sua vida poderia ser bem vivida. Pela janela, Marcus Ilianov, um russo alto, esbelto, há alguns anos no Brasil, dois ou três, na minha tentativa inútil de precisar, fugindo do clima de tensão que se encontrava a Rússia e a Europa, e a guerra que deixava a maioria triste.

Ah, aquela janela era magnífica. Era grande o bastante, e nela cabiam todos os pensamentos repentinos de Marcus: dos serenos aos mais insanos. Pensamentos esses que levavam Marcus a um delírio constante, que o deixava sem alma, sem razão e sem culpa.

Marcus estava na janela, admirando as pessoas. Via drogados, trabalhadores, loucos e carros. Via fábricas, casas, outras janelas. Não podia abrir asas e voar, pois nem seu pensamento estava livre naquele momento. Não era o que queria ser.

Após passar horas olhando pela janela, vendo as outras pessoas e admirando a paisagem, Marcus se conformou. Ou melhor, percebeu que a conformidade não tinha a ver com seu espírito revolucionário e ideológico. Marcus fechou a janela...não queria mais pular. Entendeu que vivia em função dos outros, e, antes de se salvar, salvaria os seus ideais.

Marcus era um russo, de sotaque bruto e forte. Marcus olhava os outros pela janela.
Não queria terminar sua vida pela janela, e sim mudar o mundo. No entanto, percebeu que não tomaria uma atitude sensata se vivesse a vida pela janela.

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